sexta-feira, 24 de abril de 2009

Eles quase chegaram lá

PASSADO - Tony, Josimar, Marcelo, Edy e Fabbio: formação original volta a se reunir para um show durante o Cineport

Antecipando nostalgia dos anos 1980 que tomaria conta dos trintões brasileiros na metade dos anos 2000, uma banda de João Pessoa já bebia dessa fonte, pelo menos, dez anos antes. Provocadora, debochada e divertida, a Flávio Cavalcanti foi formada por estudantes do curso de Comunicação da UFPB, em João Pessoa, a partir do gosto comum pelo rock brasileiro, e chegou a assinar com uma grande gravadora. Mas no momento errado. O quinteto paraibano talvez tenha sido um dos primeiros grupos brasileiros a conhecer o início da crise que afundou a indústria fonográfica.A banda, que encerrou suas atividades em 2002, volta para celebrar os dez anos do primeiro disco, o independente Flavio Cavalcanti na Praia – Vol. 1, gravado em um fim de semana de 1999 no Fábrica Estúdios, em Recife, com incentivo da lei municipal Viva Cultura. Um show com a formação original está sendo negociado para acontecer durante o Cineport, o festival de cinema que acontece entre os dias 1º e 10 de maio, em João Pessoa. Na última terça-feira, os vocalistas Fábio Queiroz (hoje, Fabbio Q) e Josimar “Punk”, o guitarrista Edy Gonzaga, o baixista Marcelo Cavalcanti e o baterista Tony voltaram a ensaiar, depois de sete anos. “O clima é o mesmo. Nós sempre fomos uma banda que buscava se divertir e passar isso através do som que fazíamos - e fazemos ainda. Para o Flávio (Cavalcanti), essa é a matéria-prima básica: música e diversão”, comenta Edy.
Criada em 1994, o Flávio Cavalcanti Project estreou nos palcos das calouradas de Comunicação com a proposta de revisitar o rock brasileiro dos anos 1980. O nome era uma provocação ao lendário apresentador de televisão que odiava rock ‘n’ roll. “Não éramos uma banda, mas um bando de rapazes e moças universitários devorando livros, filmes, discos, festas, pessoas.
Fazendo história ao invés de repetir o evangelho acadêmico”, lembra Fabbio, que na época também estava escrevendo uma monografia sobre a cena roqueira paraibana (lançada em 1995 pela Marca de Fantasia com o nome de ‘O Rock Paraibano dos Anos 80’, em parceria com Rogério Nunes).
Até 1998, o grupo frequentou o circuito universitário da capital – com direito a uma apresentação antológica no Manaíra Shopping, em 1996. “Quando gravamos Flávio Cavalcanti na Praia – vol.1, saímos do campus, tiramos o ‘Project’ do nome e ‘invadimos’ a orla marítima, o centro e a periferia com o nosso som vibrante, intenso, contagiante”, continua Fabbio. O disco foi o cartão de visita para a banda pessoense começar a ganhar espaço em festivais pelo Nordeste, entre eles o Fenart, Centro em Cena e o Mada, em Natal (RN). Foi na segunda edição festival potiguar, em 2000, que a banda foi “descoberta” por um olheiro da então multinacional Virgin e acabaram contratados pela gravadora. Acontece que a Virgin Brasil não ia muito bem das pernas. O grupo chegou a gravar um single - “Enquanto os garotos jogam bola”, que virou clipe no canal Sport TV – e foi aconselhada a mudar o nome para Flávio C, a fim de evitar problemas judiciais com a família do apresentador, morto em 1986. Mas o esperado disco não saiu.
Em 2001, a Virgin dispensou todo o seu cast nacional e a rapaziada, já morando em São Paulo, foi parar no recém-criado selo Arsenal Music, do produtor Rick Bonadio, que conheceu os paraibanos quando era diretor artístico da Virgin. Bonadio, o produtor do lendário disco do Mamonas Assassinas (1995), criou o selo para investir em bandas novas, como a nossa Flávio C. Entre as apostas do produtor carioca estavam também CPM 22 e Tihuana, que viriam a fazer bastante sucesso depois. Na Arsenal, o Flávio C fez o CD Seguindo a Rede Elétrica, lançado em 2002. O álbum foi gravado no Midas Estúdios, em São Paulo, sob a batuta do próprio Rick Bonadio, com participação de Phillipe Seabra (Plebe Rude) tocando guitarra na faixa “Tente me alcançar”. “Regravamos a maior parte das músicas do primeiro e acrescentamos mais quatro inéditas”, conta Fabbio. “Nesse CD, gosto mais das músicas novas do que das regravações. Elas traduzem melhor o espírito da banda naquele momento”.O disco, distribuído nacionalmente pela Abril Music, ainda rendeu o single “E se for só”, que foi enviado para as rádios de todo o Brasil. Mas, parece, não havia espaço para o rock inteligente e ingênuo do grupo paraibano na Arsenal Music, que cultivava junto ao seu cast, com o CPM 22 à frente, a gênesis do emo brasileiro. Com uma divulgação capenga por parte da gravadora, o disco não decolou e, naquele mesmo ano, o Flávio C acabou e todo mundo voltou para João Pessoa.“Eu nunca imaginei que o Flavio C. fosse chegar aonde chegou, não era a pretensão, nunca foi”, admite Fabbio. “A idéia inicial era montar um ‘projeto’ para revisitar o rock feito no Brasil nos anos 80 e tocar em calouradas. O que aconteceu depois foi consequência. Era muito divertido e insano ao mesmo tempo. Era esse o espírito da coisa”, completa. Para Edy, alguns fatores contribuíram para o Flávio C não deslanchar, principalmente a falta de um bom produtor e a falta de investimentos por parte da gravadora, cujo orçamento começava a ser prejudicado pela pirataria.“Hoje, o Flavio C é um referencial histórico para a cena rock da cidade, como as bandas Limousine 58 e Shock. Sendo assim, é gratificante, do ponto de vista artístico, ver bandas novas reverenciando nosso trabalho e fazendo covers de músicas nossas”, conclui Fabbio. “Tudo o que eu faço e conquisto hoje em música é consequência de uma vivência e da época do Flávio C, ou Cavalcanti, como queiram”, confessa Edy, que tem disponibilizado músicas e vídeo da banda na internet.
Ano a ano na carreira do flávio c
setembro de 1994 – Fábio e Edy, então estudantes do curso de jornalismo da UFPB, montam o Flavio Cavalcanti Project;
outubro de 1994 - A banda faz sua primeira apresentação na Sala Preta para uma platéia de universitários, já com a formação original;
setembro de 1996 - O grupo faz o lendário show no interior do Manaíra Shopping;
janeiro de 1999 – A Banda lança o CD independente Flávio Cavalcanti na Praia – vol.1;
maio de 2000 – O grupo se apresenta no festival Mada;
2001 - Banda assina com a Virgin e lança o single “Enquanto os garotos jogam bola”.
2002 - Banda lança o CD Seguindo a Rede Elétrica pela Arsenal/Abril Music e chega ao fim;
abril de 2009 - Grupo se reúne para comemorar os dez anos de lançamento do CD Na Praia – vol.1.





Jornal da Paraíba
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