quinta-feira, 26 de abril de 2012

Os maiores Pop Songs da história Nº 13: David Bowie, ‘Let's Dance’

Quando as pessoas chamam de Bowie um mestre da reinvenção, eles estão geralmente se referindo a um momento obscuro da sua década de 1970, quando ele passou rapidamente entre cantor escritor / compositor, alter egos múltiplos (Ziggy, Aladdin Sane) e estilos musicais (soul de olhos azuis, pioneiro eletrônico ). Eles normalmente não usam o termo para indicar o momento em que, depois de mais de uma década de ser aos olhos do público, ele lançou um de seus maiores sucessos de todos os tempos, Let's Dance "Vamos dançar", e saltou para o mainstream como nunca antes (ele atingiu o número um neste dia, 23 de abril, 1983).
NC
Em 1980, "Scary Monsters (e Super Creeps)" era, ao seu modo, outra mudança. Depois de  'Berlin trilogy' - "trilogia de Berlim", com Brian Eno, Bowie saudou a nova década com um álbum que referenciada a cena New Romantic, mas também que referenciada seu próprio passado. A maioria, obviamente, na Number One "Ashes To Ashes" single, mas também em faixas como "Teenage Wildlife", que parecia ser um momento crucial em si (este era o som de Bowie  que admitia que ele estava ficando mais velho).
LD "Let's Dance" no entanto, foi significativo em uma forma totalmente diferente. Bowie tinha assinado um novo contrato de gravação, tingiu seu cabelo de loiro e estava pronto para abraçar a corrente de uma forma como nunca havia feito antes. Em Nile Rodgers (confira nossa entrevista - interview- recente com o grande homem), ele escolheu um produtor que tinha feito seu nome com mudança de jogo, do chique a números de funk, do disco e, em seguida, ido para o dance de Diana Ross e Simon Carly com grandes sucessos do pop.
Bowie Apesar do relativo fracasso do álbum Chic em 1981 com Debbie Harry ("Koo Koo"), Rodgers era uma coisa certa em termos de canções de sucesso. "Let's Dance" foi a faixa-título do novo álbum ele estava gravando em estúdios de Nova York - New York's Power Station e foi cativante.
DB O funk esculpido dos versos e foi acentuado por uma linha de baixo visceral, enquanto Stevie Ray Vaughan foi levado para anexar uma parte de guitarra para a pista. Tanto quanto qualquer canção Bowie outro, ele tocou uma corda universalmente. Era seu primeiro número em ambos os lados do Atlântico. Rodgers, por sua vez, seria chamado em dois anos mais tarde para o álbum de produtor de Madonna com 'Like A Virgin'.O enredo de lugares da carreira de Bowie "Let's Dance" como o ponto onde começou a sua descida de longa década em um deserto artístico, onde as aspirações musicais iria jogar o segundo violino para os comerciais. Mas " Let's Dance " pode ser visto de outra forma, como um dos melhores singles de Bowie, mais muito bem feito, um momento em que sua excentricidade colidiu com o mainstream dos anos 80 para criar um pop clássico.
Você sabia?Amostras Craig David a faixa em 'Hot Stuff'Também foi coberto por The Smashing Pumpkins, juntamente com 'Transmission' dos Joy Division em um minuto 25 mash-up.Rodgers e Bowie juntou-se uma década mais tarde para Bowie 'Black Tie, White Noise' álbum em 1993.
Artigo do nme.com/blog/

terça-feira, 24 de abril de 2012

Dolores Duran

DAS DORES, DOLORES

Dolores nasceu Adiléia e veio ao mundo para se tornar “a rainha da dor de cotovelo”. A voz que falava de sentimentos como ninguém. A compositora das letras tristes. Uma das maiores representantes do nosso samba-canção. A cantora que ia do bolero ao jazz, do samba ao forró, de um ritmo a outro com uma versatilidade impecável. Da fossa a bossa, conheça agora, Dolores Duran
Dolores Duran
© Vitor Dirami, Blog Oficial Maysa.
Dolores, que foi primeiramente batizada Adiléia Silva da Rocha, nasceu em 1930 na rua do Propósito, bairro da Saúde, no Rio de Janeiro. De família pobre, com pai ausente e um problema cardíaco advindo de uma doença da infância, tinha sonhos maiores que ela mesma. Sonhava ser uma cantora famosa. E poucas vezes passou pela música popular brasileira uma mulher de tamanha sensibilidade.
Começou a carreira ainda menina e sua primeira participação musical foi no programa Calouros em Desfile, que era comandado por Ary Barroso e seu temido gongo, na Rádio Tupi. Ela cantou um bolero em espanhol e encantou Ary, que costumava gongar os candidatos que não cantassem músicas em português. Levou a nota máxima e não parou mais.
Por conta de dificuldades familiares, Adiléia largou a escola para ajudar em casa. Estava no ensino primário. Nesse período atuou em novelas na Rádio Cruzeiro do Sul, em programas na TV Tupi e no Teatro. Com esses trabalhos, até conseguiu juntar um dinheirinho e tentou retomar os estudos, mas acabou sendo expulsa do colégio por falta de pagamento e resolveu largar de vez a vida escolar.
Dolores Duran
© Vitor Dirami, Blog Oficial Maysa.
Dolores Duran
© Vitor Dirami, Blog Oficial Maysa.
Muito inteligente, Adiléia era autodidata. Aprendeu a cantar sozinha ouvindo discos e vários idiomas – Inglês, Frânces, Espanhol e até Esperanto. A carreira tomou um impulso ao conhecer o casal Lauro e Heloisa Paes de Andrade, que fizeram de tudo para transformá-la em uma grande cantora. Nascia Dolores Duran. Dolores, um nome com uma enorme carga de sofrimento. E Duran, um sobrenome que sugere que a dor persiste.
Agora como Dolores Duran, conheceu o jornalista Antônio Maria, que viria a ser um grande amigo e fã de seu trabalho. Antônio escreveu vários artigos sobre a cantora, o que serviu para espalhar seu talento. Dolores encantava os frequentadores das boates cariocas e acabou ganhando fama. Com isso, foi contratada pela Rede Nacional para participar do programa Pescando Estrelas. Dolores tinha uma forma muito intimista de interpretar, tinha uma voz uniforme e boa pronúncia. Chegou até a arrancar elogios de Ella Fitzgerald para sua interpretação de My Funny Valentine.
Muito romântica e à frente do seu tempo, Dolores correu pela vida sem freios. Era namoradeira e não se poupava a aproveitar seu tempo. Um dia, disse a um ex-namorado que pedia para reatar: “Repeteco não dá não! Se não deu certo na primeira, não dá certo na segunda. Isso aqui não é gravação”. Entre seus namorados estiveram Billy Blanco e João Donato.
Na década de 50, passou a cantar na badalada boate do Hotel Glória. Em 1952, lançou o seu primeiro disco, com músicas para carnaval. Já em 1955, seu coração deu os primeiros sinais de cansaço. Com apenas 25 anos, Dolores ficou um mês internada por conta de um infarto. E mesmo após as recomendações médicas, continuou abusando do álcool, cigarro e noitadas. Ela vivia acompanhada pela sombra da morte, sabia disso e por isso mesmo não deixava de levar a vida como queria.
Mesmo com o susto, Dolores conseguiu superar as dores da vida através da sua inspiração musical. Fazia poesia popular, que falava da vida e do cotidiano de uma forma natural. Em uma parceria com Tom Jobim, compôs “Por causa de você” ,“Se é por falta de adeus” e “Estrada do sol”. A versão de Dolores para “Por causa de você” foi composta em menos de 5 minutos, enquanto ela ouvia Tom dedilhar a melodia em um piano da Rádio Nacional. Vinicius de Moraes, que havia criado outra letra, cedeu a ela a música depois de ler a letra de Dolores. E esta se tornou uma das mais belas composições da música brasileira.
Ainda nos anos 50, casou com Macedo Neto, ator e compositor, que conheceu nos estúdios da gravadora Copacabana. Mas se separaram pouco tempo depois, por causa das divergências de opinião. Ela até chegou a engravidar, mas perdeu o bebê e ficou estéril. O que contribuiu ainda mais para a separação.
Sua vida profissional estava no auge. Em 1958 cantou no Uruguai, União Soviética e China. Conheceu Paris e passou uma temporada lá. Na volta, adotou uma órfã deixada em sua porta e batizou a menina de Maria Fernanda , dando a ela o sobrenome do ex-marido, Macedo Neto.
Aos 29 anos, já tendo gravado mais de 20 discos, um dia seu coração explodiu, tamanha a intensidade com que viveu. Dolores morreu de um infarto fulminante enquanto dormia, mas não sem antes dizer sua famosa frase “Não me acorde, estou cansada. Vou dormir até morrer”. Foi uma dor só, a dor do adeus. Dolores viveu e morreu do coração. E até hoje, ela encanta gerações com sua voz cheia de ternura, uma voz que cantava sobre o doce e amargo sabor de se viver um grande amor.
Dolores Duran
© Dolores Duran, álbum "A Noite do Meu Bem".
Do  http://obviousmag.org/archives/2012/01/das_dores_dolores.html
Leia mais: http://obviousmag.org/archives/2012/01/das_dores_dolores.html#ixzz1sy2iCrUj

sábado, 14 de abril de 2012

1970 - Em Pleno Verão


1970 - Em Pleno Verão

1. Vou Deitar e Rolar (Quaquaraquaqua)
2. Bicho do Mato
3. Verão Vermelho
4. Até Aí Morreu Neves
5. Frevo
6. As Curvas da Estrada de Santos
7. Fechado pra Balanço
8. Nao Tenha Medo
9. These Are the Songs
10. Comunicação
11. Copacabana Velha de Guerra


Elis
Elis constroi a música demonstrando a situação abordada no contexto, explorado pela letra. Sua interpretação é magnífica, onde solidificam características. Elis demonstra em sua voz algo que traduz muitos  significados. Ela interpreta de maneira que apresenta menos entonação, quer dizer, solidifica a mensagem transmitida por meio da interação e interpretação. Elis manifesta por meio de sua voz algo como se fosse um grito de libertação em relação a toda história vivenciada por nós mesmos.
                Elis Regina , continua sendo uma linda voz sempre marcada como uma grande cantora da MPB, como declara Regina Echeverria em seu livro Furacão Elis, “com o tempo isso foi ficando mais mais desenhado, como uma arquitetura, uma coisa costruída, Elis foi encontrando uma maneira de sofisticar aquela altivez, esteriotipar”26   (Echeverria, 1985).

quinta-feira, 12 de abril de 2012

O zine não morre...


Comunicação

O zine não morre, reinventa-se

08.04.2012Clique para Ampliar
Fernanda Meireles: arte-educadora, colecionadora, pesquisadora e zineira, ela é a principal referência cearense neste modelo de mídia alternativa. Fernanda garante que a internet não tirou o encanto dessas notas do underground
FOTO: WALESKA SANTIAGO
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Papel, cola, tesoura, tinta, recortes, arte, palavras...
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... feitos com os mais diversos materiais e formatos, os zines seguem cumprindo sua função
FOTOS: WALESKA SANTIAGO
Irmão mais novo - e mais rebelde - da imprensa, o zine tem origem imprecisa e uma história de quase um século. Coautor de transformações culturais nos anos 20 (que sedimentaram a indústria dos quadrinhos) e 70 (quando foi porta-voz do punk), este veículo impresso artesanal fez sucesso no Estado entre a década de 90 e o começo do novo milênio. Seguindo à risca a ideia do "faça você mesmo", os zines sobrevivem graças ao próprio caráter mutante
Uma folha de papel tamanho A4 dobrada no meio. Revistas, jornais, tesoura e cola. Lápis, caneta, canetinha, pincel e tinta - rola até batom, se precisar. Faz uma capa, o "miolo", põe o endereço na contracapa. Leva até a xérox mais próxima, roda umas cópias em preto e branco e pronto.

Não, não estamos de volta à década de 90 (ou 70, ou até antes). Mas quem já fez um zine na vida nunca esquece o ritual. Por muito tempo, essas publicações artesanais representaram a maneira mais rápida, prática e descolada de fazer circular conteúdo de cenas alternativas e marginais (por favor, na acepção do dicionário: à margem).

Em Fortaleza, os zines ganharam especial popularidade entre os anos 90 e o início dos anos 2000, graças ao uma série de ações (especialmente oficinas e encontros independentes de zineiros) que se desenrolaram naturalmente, empreendidas por diferentes atores da cena cultural da cidade. Se pensarmos, a demanda era a mesma suprida hoje por blogs, redes sociais e outras plataformas virtuais de comunicação: expor o que se passa na cachola e conhecer pessoas. Conectar-se.

De lá pra cá, no entanto, muita coisa mudou. Com o acesso cada vez mais facilitado à internet e a quantidade crescente de novas ferramentas de criação e compartilhamento de conteúdos, o papel cedeu lugar à tela. Além dos blogs, vieram fotologs, o Orkut, vlogs, YouTube, Twitter, Facebook; e aparelhos como smartphones e tablets.

Mas, assim como a TV não matou o cinema e o vinil ainda hoje tem seu mercado, o papel não deixou de ser fundamental para a comunicação - e o zine segue bem, obrigado. Obviamente, não com a mesma força ou da mesma maneira, após o impacto da internet. Como ele segue, então? Vinculado, adaptado, transmutado - enfim, em convivência com as plataformas online, pois um meio não suplanta o outro. Mas, segundo o zineiro e profissional de comunicação Marcelo Carota, 45 anos, conhecido pelo apelido Pirata Z, isso não é de hoje.

"A grande força da zine, que a mantém sacudida e sacudindo, sobrevivendo a todas e tantas mudanças tecnológicas e conceituais de comunicação, é precisamente o fato de não precisar enquadrar sua forma de produção nesse ou naquele outro formato, meio ou conceito. Ela, porque livre (especialmente da obrigação de gerar lucro), goza do privilégio de poder ser mutante, híbrida, múltipla", avalia Pirata (que trata o zine no feminino mesmo).

Como exemplo, o zineiro cita uma transformação ocorrida, ainda nos anos 70, com a explosão do movimento punk. "Pipocavam bandas por todos os lados. As zines escreviam sobre elas, xerocavam fotos de seus integrantes, das capas de seus singles (quando havia...), e só e fim. Um dia, alguém teve a genial ideia de fazer zines em fitas K-7, nas quais os textos-resenhas eram gravados, e o melhor: com uma ou duas demos das bandas citadas. Maravilhoso, isso", ressalta.

Híbrido
Pirata mexe com zines há 25 anos, e é uma das figuras mais conhecidas no cenário nacional, autor do Pirata Zine - o último que produziu dentre tantos ao longo da carreira, e cuja existência impressa foi interrompida há quatro anos, após 107 edições. "Não considero-a encerrada. Estou sem tempo de produzir direitinho; ao mesmo tempo, de quatro anos pra cá, com as redes sociais, a comunicação passou por muitas - e, ao meu ver, ótimas, em todos os sentidos - alterações, tornando-se mais dinâmica, objetiva, e estou pensando em como será o formato quando eu puder voltar a fazer a Pirata Zine", adianta.

"Quero incorporar mais gente, diversificar o conteúdo, aproveitando mais as possibilidades da plataforma, o que, naturalmente, compreende conteúdo multimídia. Quando interrompi a produção e disse que migraria para a internet, tinha uma mailing com mais de 20 mil e-mails, tudo fruto de recomendação e ou de gente me passando contatos, para que eu os incluísse no envio", orgulha-se o zineiro, que recentemente colaborou para a última edição da revista Overmundo (do site overmundo.com.br) com um artigo esclarecedor sobre a história dos zines, seu surgimento no Brasil e suas transformações a partir da convivência com a internet (texto disponível em overmundo.com.br/revista/?titulo=revista).

Para Pirata, os zines não tiveram nem nunca terão problemas com a rede mundial de computadores, que "só representam benefícios à questão de distribuição (o que era e é um problema pra quem faz no papel, por conta dos custos com os Correios). Com a internet, pode-se aumentar muito o público de uma zine, e de graça - relativamente falando, pois há que se considerar os custos para acesso. Digo mais: se, um dia, por alguma obscura razão, a internet acabar, as zines continuarão seu curso, e ainda mais fortes", profetiza.

Inclusão
Para além do poder de mutação, Pirata destaca o zine como ferramenta de inclusão. "Assim que me mudei pra Brasília, quatro anos atrás, fiz uma oficina de zine para crianças surdas, com uma média de 10 anos de idade, todas estudantes de uma unidade de ensino especial do Governo do Distrito Federal (GDF). Separei a turma em grupos: dos que gostavam ou queriam desenhar e os que queriam ou gostavam de escrever. Tive o auxílio de uma professora das crianças, para traduzir em libras o que eu dizia e me falar o que elas queriam saber".

O resultado foi uma revistinha de oito páginas, com aventuras, esportes e moda. "O GDF quis porque quis uma cerimônia de entrega das revistinhas, e eu, a princípio, achei meio boboca, porque compreenderia uma formalidade que não combinava com o clima de brincadeira que prevaleceu na oficina", conta Pirata. Um depoimento, porém, mudou a opinião do zineiro. "Um aluno pediu à professora de Libras que me dissesse que aquela tinha sido a primeira vez que eles ´conversavam´ com alguém que não sabia Libras. Você pode dizer que um livro também permite isso, mas livro é uma obra literária, não um meio de comunicação. Então eu lhe pergunto: que outro meio de comunicação tem esse poder?".

História
Em seu artigo para a revista Overmundo, Pirata Z recorda o início dos zines no Brasil, apontando como seus "parentes remotos" as revistinhas sobre ou de quadrinhos. Assim, o zineiro aponta como "protozines brasileiros" as revistinhas eróticas produzidas, sob absoluto anonimato, pelo carioca Carlos Zéfiro, de 1949 até 1970.

Segundo Pirata, Zéfiro criou cerca de 500 edições. Só deixou o anonimato em 1991, um ano antes de morrer. Mas o autor do artigo cita também a explicação do cearense Henrique Magalhães, autor do livro "O que é Fanzine", (Editora Brasiliense), segundo o qual as zines surgiram no Brasil como resposta dos quadrinistas nacionais ao descaso das grandes editoras, cuja atenção era voltada à produção estrangeira.

Seja como for, são mais de 40 anos de zines no País. Mas nem é preciso tanto distanciamento para, hoje, enxergar os zines como uma espécie de memória coletiva. Foi o que fez, por exemplo, o paulistano Márcio Sno, zineiro e orientador pedagógico que, desde 2007, dedica-se ao documentário "Fanzineiros do século passado". Ao longo da produção, o filme acabou virando uma série de três capítulos. Uma coisa se liga à outra e, assim, a segunda parte foi lançada no último mês, em São Paulo, durante a II Ugra Zine Fest, uma das ações do projeto Ugra Press, criado em 2010 pelo designer gráfico Douglas Utescher.

A Ugra Press surgiu de uma parceria entre Utescher com o colega zineiro e redator publicitário Leandro Márcio Ramos. Hoje o designer toca a editora sozinho, mas sempre com as portas abertas - tanto que, por ela, Ramos vai lançar seu primeiro livro. Em breve, também deve sair a coleção de álbuns de quadrinhos malditos, cujo primeiro número é com Law Tissot (outro zineiro e criador da Zineteca Mutação, no Rio Grande do Sul).

Fiel à máxima punk "faça você mesmo", que norteia o universo zineiro, o designer procura desenvolver o trabalho na editora sob a estética e os procedimentos artesanais dos zines. Para o miolo do livro de Ramos, por exemplo ("Tudo o que é grande se constrói sobre mágoa"), foi usada impressão digital, o que permitiu fazer uma tiragem pequena e com boa qualidade. "Para a capa a imagem foi serigrafada em tecido, que depois foi recortado e colado sobre o papel que escolhemos. A encadernação também foi feita manualmente", conta Utescher. "O custo para a realização do livro foi baixíssimo, e o produto final é algo que tem alma, algo que certamente será especial para quem adquirir".

A menina dos olhos da Ugra Press, no entanto, é o "Anuário de Fanzines, Zines e Publicações Alternativas", cuja primeira edição reuniu amostras da produção brasileira. "Eu e o Leandro editamos alguns fanzines nos anos 90. Por razões diversas paramos de fazê-los no início dos anos 2000, mas sempre tivemos o desejo de retomar a produção. Um dos primeiros projetos que havíamos imaginado para a Ugra era, justamente, fazer um zine impresso. Na época, assim como muitas outras pessoas, tínhamos a impressão de que a cena de fanzines estava morrendo", recorda.

O pontapé inicial deu-se com o trabalho de conclusão do curso de pós-graduação de Utescher, sobre zines. "Juntando uma coisa à outra, fomos tentar entender em que pé estava a produção de fanzines no Brasil naquele momento. Conversando sobre isso surgiu a ideia de fazer o Anuário. Nos anos 80 e 90, existia uma rede de contatos fortíssima entre os editores, operando via correio. Era um sistema primitivo em comparação às possibilidades de contato na era dos celulares e da internet, mas esse sistema funcionava muito bem. Saía um zine novo e logo todo mundo estava sabendo, comentando, trocando. A internet, de alguma forma, matou essa rede", explica.

Assim, a meta da dupla com o "Anuário" era mapear a atual produção fanzineira no País e estabelecer uma referência para editores e leitores, fomentando a discussão e facilitando o contato entre as partes. Para a primeira edição, Utescher e Ramos receberam mais de 120 títulos. O critério utilizado foi que a publicação ainda estivesse disponível, caso alguém quisesse adquirir ou que o editor pretendesse dar continuidade à sua edição. "Fora isso, é imprescindível que o editor nos envie uma cópia física da sua publicação. Não aceitamos arquivos em formato pdf ou nada do tipo", salienta.

Além da importância da catalogação e do mapeamento, o Anuário configura-se um espaço de reflexão sobre zines, ao fazer a resenha de todos os títulos recebidos.

"A cena alternativa brasileira sofre há muito tempo com a falta de crítica. A postura, em geral, é aceitar e enaltecer qualquer iniciativa. Mas há uma quantidade significativa de coisas ruins que são produzidas nesse meio, e ao enaltecê-las estamos desmotivando as pessoas que desenvolvem um trabalho de qualidade", observa Utescher.

Para a segunda edição do "Anuário", a Ugra Press ampliou a proposta e divulgou a chamada para editores de toda a América do Sul. Além da catalogação e da resenha dos títulos, o Anuário deverá contemplar o zine como objeto de estudo.

Assim, também houve convocação para monografias, dissertações, artigos ou documentários sobre o tema. O prazo de envio foi dezembro do ano passado.

ADRIANA MARTINS do diariodonordeste globo.com