terça-feira, 24 de agosto de 2010

Billie Holiday, Ella Fitzgerald e o Jazz em mil gravações

Billie Holiday, Ella Fitzgerald e o Jazz
Mil gravações inéditas mantidas em segredo durante 70 anos
Dela constam, entre muitos outros, temas cantados pelas divas do Jazz
Uma coleção de quase mil discos com gravações inéditas de apresentações ao vivo de grandes ícones do Jazz, mantida em segredo durante cerca de 70 anos, tornou-se o bem mais precioso do nova-iorquino Museu de Jazz do Harlem. São entre muitos outras, canções cantados pelas divas Billie Holiday e Ella Fitzgerald.
"Tem um valor incalculável. Pode-se pôr preço a uma estátua de um faraó da qual só existe um exemplar? Não", disse à agência espanhola Efe o diretor do museu, Loren Schoenberg, o responsável pela recuperação da coleção, depois de a perseguir durante anos.
Com a sua chegada ao bairro de Nova Iorque onde ocorreu a gestação de variantes do jazz como o bebop e se passearam músicos como Charlie Parker (1920-1955), o Harlem recupera material essencial para conhecer a história da música nascida em finais do século XIX na Louisiana, nas comunidades afro-americanas.

A enigmática compilação, que inclui mais de 100 horas de música ao vivo, foi registrada entre 1935 e 1941 pelo engenheiro de som William Savory que, aproveitando os recursos técnicos do seu trabalho, gravou apresentações únicas dos grandes nomes da era dourada do Jazz.
A coleção de Savory foi durante anos uma obsessão para o diretor do Museu Nacional de Jazz do Harlem, que soube da sua existência em 1980 quando trabalhava para o clarinetista Benny Goodman (1909-1986) e conheceu o engenheiro.
Savory manteve as suas gravações escondidas e foi o único a desfrutar das apresentações exclusivas e jam sessions que os melhores intérpretes daquele gênero musical fizeram em diferentes locais dos Estados Unidos.
"Todos os dias, durante 20 anos, lhe pedi que me deixasse ouvi-la (a coleção), mas nunca me permitiu", relatou o próprio Schoenberg, assegurando que durante anos Savory foi o único afortunado que pôde deleitar-se com a música de vultos do jazz como Artie Shaw (1910-2004) ou Lionel Hampton (1908-2002).
Depois da morte de Savory, em 2004, Schoenberg, que também é pianista e saxofonista, iniciou intensos esforços para entrar em contato com o filho de Savory e cumprir, por fim, o desejo que durante tanto tempo lhe havia negado o proprietário da coleção.
Em Abril passado, Schoenberg conseguiu finalmente não só ouvir parte dos quase mil discos como convenceu o herdeiro de Savory, que vive em Chicago (Illinois), para que vendesse a coleção ao museu nova-iorquino.
Para Schoenberg, que durante anos acreditou que a compilação apenas continha algumas gravações de Goodman, é difícil eleger a melhor atuação.

No entanto, não hesitou em classificar como "despedaçadora" a interpretação de
Billie Holiday (1915-1959) de "Strange Fruit", uma canção - escolhida pela revista Time em 1999 como a melhor canção do século XX - sobre os linchamentos de que eram alvo os afro-americanos no sul dos Estados Unidos, cantada ao vivo pela diva do jazz também conhecida como "Lady Day".
Outra das pérolas da coleção é a versão que o saxofonista Coleman Hawkins (1904-1969) fez, em 1940, do clássico
"Body and Soul", escrito em 1930 e interpretado noutras ocasiões por Ella Fitzgerald, Frank Sinatra e Carly Simon.

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